29/09/2025
Quilometragem real de um veículo usado: como saber se foi adulterada

Apesar de ser ilegal, a adulteração do conta-quilómetros continua a ser uma prática comum no mercado de veículos em segunda mão. A quilometragem é um dos principais indicadores do estado geral do veículo – quanto menos quilómetros, maior o valor de venda. Por isso, alguns vendedores recorrem à fraude do conta-quilómetros para inflacionar o preço de forma desleal.
A boa notícia? Na maioria dos casos, é possível descobrir a quilometragem real de forma simples – consultando um relatório histórico do veículo. Mas atenção: este passo nem sempre é suficiente. Existem outros sinais que podem indicar adulteração – e é importante saber reconhecê-los.
Alguns compradores desvalorizam a quilometragem, mas este detalhe pode fazer uma grande diferença no preço final. E é aí que muitos são enganados. Se os números foram alterados, trata-se claramente de uma fraude.
Neste artigo, mostramos-te como detetar esta prática ilegal – e tomar decisões informadas na compra de um veículo usado.
À procura de um automóvel de confiança?
Um veículo com a manutenção em dia, sem danos, conquista a confiança de qualquer comprador. Verifica o VIN e certifica-te de que não estás a comprar uma sucata:
Verifica a quilometragem com um relatório da carVertical
Consultar o histórico de um carro é simples – basta introduzir o número VIN no decodificador da carVertical. Além da quilometragem real, registada ao longo do tempo, o relatório também pode indicar:
- se o carro já teve acidentes;
- quantas vezes mudou de proprietário;
- se já esteve registado noutros países;
- se foi utilizado como táxi ou veículo de aluguer;
- entre outras informações relevantes.
Eis como os relatórios mostram a quilometragem:
Este primeiro exemplo mostra um gráfico de quilometragem que sobe de forma constante ao longo dos anos. Está claro de que se trata de um carro sem manipulações do conta-quilómetros. Excelente sinal!
Por vezes, o gráfico apresenta uma linha quase plana, sem grandes variações. Isso pode levantar suspeitas – pode indicar que houve adulteração nesse período. No entanto, nem sempre é o caso. Muitas vezes, essas zonas planas significam apenas que houve pouco tempo entre os registos ou que o carro esteve parado durante algum tempo.
Agora, vejamos um exemplo típico de manipulação pouco antes dos 200 000 km. Porque é que este número é tão importante?
Porque muitos carros modernos começam a apresentar problemas mais sérios a partir dessa marca. Os vendedores sabem disso – e alguns recorrem à manipulação do conta-quilómetros para passar a ideia de que o veículo ainda está longe desse número “crítico”.
Neste exemplo, a quilometragem foi reduzida em 82 383 km entre novembro de 2023 e fevereiro de 2024. Quem comprasse este carro sem consultar o relatório histórico ia ter uma grande surpresa – os 200 mil km estavam muito mais próximos do que pareciam.
Se estás a pensar comprar um carro usado, usa sempre um decodificador VIN para verificar a quilometragem real e obter dados sobre acidentes, registos, e eventuais situações de furto. Cada vez mais pessoas recorrem aos relatórios históricos – e isso complica a vida aos burlões.
Quão comum é a fraude no conta-quilómetros?
As estatísticas sobre manipulação do conta-quilómetros não são animadoras. Em nenhum país os compradores estão totalmente a salvo deste tipo de fraude – embora a frequência varie bastante de região para região.
Na Europa de Leste, a adulteração é especialmente comum. Países como a Letónia (11,2%), Ucrânia (9,1%), Lituânia (7,8%), e Roménia (6,5%) estão no topo da lista. Já na Europa Ocidental, o problema é menos frequente, mas continua a existir – sobretudo em veículos mais caros.
Portugal tem uma taxa relativamente baixa (2,3%), semelhante à do Reino Unido (2,1%) e da Suíça (2,1%). Ainda assim, vale a pena estar atento. A elevada procura por carros com poucos quilómetros alimenta este tipo de esquema, e o comprador pode acabar a pagar mais por um veículo adulterado – com todos os riscos mecânicos que isso pode implicar.
6 sinais de manipulação do conta-quilómetros
Os odómetros podem ser mecânicos ou digitais. Nos modelos mecânicos, é preciso desmontar o dispositivo para adulterar os números – por isso, a fraude é mais trabalhosa. Já os digitais, que dominam o mercado há mais de 20 anos, foram criados para evitar esse tipo de manipulação. Ironicamente, hoje existem ferramentas acessíveis que permitem alterar os valores com relativa facilidade.
Felizmente, antes mesmo de pedires um relatório histórico, há sinais que podes observar no próprio veículo.
1. Desgaste do pedal do travão não condiz com a quilometragem
Com que frequência trocas as borrachas do pedal do travão? Pois, o mais provável é que nunca as tenhas mandado trocar.
Como é usado constantemente, o pedal vai-se desgastando à medida que o carro acumula quilómetros. Num veículo com 100 000 km, o pedal do travão deve apresentar um desgaste moderado. Já com 300 000 km, o desgaste tende a ser evidente.
Por isso, repara se algo não bate certo. Um carro com 50 000 km não deve ter o pedal visivelmente gasto – nem parecer acabado de trocar. Ambos os casos são sinal de alerta.
2. Volante e bancos muito gastos
Uma das primeiras coisas que os especialistas observam num carro usado é o estado do volante e do banco do condutor.
Cada fabricante automóvel usa materiais diferentes. Carros de gama mais baixa costumam ter tecidos ou plásticos que se desgastam mais depressa, enquanto os modelos mais caros usam materiais mais resistentes. Ainda assim, o uso constante deixa marcas – e essas marcas ajudam a estimar a quilometragem real.
Se o tecido ou o couro estiverem muito gastos, é provável que o carro já tenha passado há muito dos 200 000 km.
3. Dobradiças das portas frouxas
As dobradiças suportam o peso de cada porta – cerca de 40 a 50 kg. Com o uso constante e a exposição ao tempo (água, sal, ferrugem), acabam por envelhecer.
Abre a porta do condutor, segura-a pela parte inferior e tenta movê-la para cima e para baixo. Não deve haver folga – as dobradiças são feitas para durar. Se estiverem frouxas, é sinal de uso intenso, e pode indicar que a quilometragem real é bem mais alta do que aquela que aparece no painel de instrumentos.
Esta é uma dica valiosa, porque, ao contrário dos estofos ou do volante, as dobradiças raramente são substituídas por quem tenta vender um carro adulterado.
4. Riscos ou danos no interior do tablier
Para adulterar um conta-quilómetros analógico, é preciso desmontar o tablier. Só mãos muito habilidosas conseguem fazer isso sem deixar marcas.
Se reparares em riscos, marcas de dedos no interior do painel, parafusos em falta ou peças partidas, é um sinal de alerta. Também podes notar números desalinhados no conta-quilómetros mecânico – outro indicativo de manipulação.
5. Ausência de registos de manutenção
Veículos precisam de revisões regulares. Cada vez que o mecânico muda o óleo ou resolve um problema, deve ficar um registo com a quilometragem do momento.
Sempre que possível, consulta esses registos para verificar se a quilometragem é coerente e não apresenta quedas estranhas.
Se o dono não tiver qualquer registo, pode ser motivo de suspeita. Mas atenção: nem toda a gente é organizada e guarda os documentos!
6. Quilometragem do veículo não condiz com a sua idade
Cada condutor usa o carro de forma diferente, mas a média anual é de cerca de 20 000 km.
Ou seja, um carro com mais de 10 anos deve ter, pelo menos, 200 000 km no odómetro. Quando estiveres à procura de um veículo usado para comprar, fica atento a discrepâncias entre a idade e a quilometragem.
Verifica um número VIN
Evita problemas dispendiosos – verifica o histórico de qualquer veículo. Obtém já um relatório completo!
Quais os riscos de um conta-quilómetros adulterado?
O objetivo da fraude é enganar compradores e aumentar o preço do veículo. Um carro com 50 000 km pode custar o dobro de outro da mesma marca e modelo que tenha 150 000 km – por isso, a tentação para os burlões é grande.
Hoje em dia, os fabricantes já não fazem carros que durem para sempre. Ganham mais dinheiro com as peças do que com a venda dos carros. Por isso, depois de alguns anos, o carro começa a dar mais despesa do que vale. Se vais pagar mais por um carro com poucos quilómetros, pelo menos certifica-te de que são reais.
Para perceberes melhor por que a quilometragem verdadeira é tão importante, aqui fica uma ideia do que vai acontecendo ao carro à medida que os quilómetros aumentam:
É por isso que os vendedores de carros usados querem reduzir a quilometragem para valores abaixo dos 200 000 km.
Atenção: estes valores não se aplicam a todos os carros. Alguns fabricantes focam-se na fiabilidade, outros privilegiam o desempenho, conforto, ou luxo.
Além disso, cada dono trata o carro de forma diferente. Trocas regulares de óleo e substituição de peças avariadas são fundamentais para garantir a longevidade do veículo. Infelizmente, muitos condutores ainda negligenciam esses cuidados.
O que é a fraude do conta-quilómetros?
A fraude do conta-quilómetros é o ato de alterar os valores do odómetro para falsificar a quilometragem do carro – uma prática ilegal na maioria dos países.
Este esquema é comum em todo o mundo. Com a chegada dos odómetros digitais, adulterar a quilometragem ficou ainda mais fácil, porque já não é preciso desmontar o tablier do carro.
Provar a fraude do conta-quilómetros em tribunal é complicado, porque muitos fatores podem fazer com que o problema pareça apenas uma distração do comprador. Por isso, o melhor conselho é evitar, sempre que possível, carros com quilometragem suspeita ou falsificada.
